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Postado por: Gabriell Stevenson segunda-feira, 6 de outubro de 2014


 "Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades." - I Timóteo 5.23

Esse texto tem sido frequentemente usado por aqueles que desejam fazer a Bíblia apoiar o consumo de bebidas alcoólicas. Alguns chegam a dizer que o problema seria a ingestão de "muito vinho", ao passo que apenas "um pouco" não seria problema. Eles se baseiam, principalmente, em textos como esse: "Não erreis: ... nem os bêbados ... herdarão o reino de Deus." [I Co 6.10]; pensam que apenas aqueles que são "escravizados" pelo álcool é que não herdarão o reino, e assim, afirmam que um pouco de bebida alcoólica não faz mal, pois não nos deixarão bêbados.

Primeiramente, devemos notar o contexto no qual este concelho de Paulo está inserido. Analisando as palavras do apóstolo, vê-se que se trata de uma recomendação a alguém com problemas de estômago e talvez acometido por outras enfermidades não mencionadas. Então, o conselho de Paulo tem a ver com uma situação médica, e não com os membros da igreja indiscriminadamente.

Há basicamente duas hipóteses quanto ao vinho recomendado para as enfermidades de Timóteo:

1. Seria vinho alcoólico
2. Seria vinho sem álcool (o puro suco de uva). 

Às vezes, uma palavra no idioma original ajuda a esclarecer determinado texto bíblico, mas isso não acontece com I Timóteo 5.23, onde vinho é tradução da palavra grega oinos - palavra que tanto pode indicar vinho com álcool como vinho sem álcool.

Se o vinho fosse de fato alcoólico, estaria de acordo com uma ideia médica nos tempos de Paulo, a de que o vinho fermentado era um medicamento útil na cura de várias doenças (R. N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, v. 5, p. 341). Se se tratasse de vinho fermentado, a ser ingerido como remédio, o conselho se assemelharia ao que aparece em Provérbios 31.6: "Daí bebida forte [shekar] aos que perecem e vinho [yaín] aos amargurados de espírito." Esses que estavam "perecendo" (doentes terminais) deviam tomar alguma coisa que lhes anestesiasse a dor. Note que também aqui o conselho é dado a doentes, e não a pessoas sadias.

Passemos, agora, à segunda hipótese: O vinho seria sem álcool, o puro suco de uva. Ingerir vinho não fermentado não é condenado pelas Escrituras Sagradas. Se aceitamos a hipótese de que o vinho recomendado por Paulo era sem álcool, isso também estaria de acordo com as propriedades medicinais da uva. O álcool realmente era usado como anestésico, pois as pessoas perdiam um pouco dos seus sentidos; incluindo dores físicas. Mas, a uva em si, possui poderes medicinais para problemas estomacais.

Paulo, então, estaria dizendo a Timóteo que suco de uva seria benéfico ao seu estômago, de preferência à água muitas vezes de qualidade duvidosa e contaminada, como acontecia já naqueles dias. "Nos dias de Paulo, como agora, a água em muitas localidades não era segura para uso. Doenças físicas, como a disenteria, frequentemente estavam relacionadas com água contaminada, sendo de comum ocorrência. Consequentemente, outras maneiras de matar a sede eram frequentemente recomendadas." (Seventh-day Adventist Bible Commentary, v. 7, p. 314). Nesse caso, vinho (suco de uva) seria preferível à água impura (J. N. D. Kelly. 1 e 2 Timóteo e Tito, p. 123).

Devemos concordar que as bebidas fermentadas - alcoólicas - confundem os sentidos e pervertem as capacidades do ser humano [Pv 23.29-32]. Vinho fermentado não é um produto natural e o Senhor nunca o produziu e nada tem a ver com a sua produção. Paulo certamente orientou Timóteo a tomar um pouco de vinho por causa de seu estômago e de suas frequentes enfermidades, porém creio - pelas evidências - que se tratava de suco de uva não fermentado.

Em Provérbios 23.32 a Palavra de Deus nos retrata o consumo de bebida alcoólica como sendo um caminho de morte, quando diz: "No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá." Em Efésios 5.18 diz-se: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito Santo." Em outras traduções diz que no vinho há "devassidão" ao invés de "contenda". E Provérbios 20.1 fala-se: "O vinho é escarnecedor, a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar não será sábio."

Podemos facilmente concluir que a Bíblia não apoia, realmente, o consumo de bebidas alcoólicas; seja em menor quantidade ou em muita quantidade. E se não apoia o consumo, posso dizer que esta recomendação de Paulo a Timóteo tratava-se sobre a ingestão de vinho não alcoólico.

Continua...

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