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O cristão e a tatuagem III: Cultura e Sociedade

By : Gabriell Stevenson



Os argumentos socioculturais talvez sejam os mais usados e plausíveis quanto à questão das tatuagens. Nesta ultima parte da serie sobre O cristão e a tatuagem, iremos abordar alguns dos argumentos mais comumente usados na tentativa de convencer os outros a não fazerem as tatuagens.

1. E quando você ficar velho? Bem, já vi muitos idosos tatuados. Mesmo aqueles que não cuidaram bem de seus corpos, quanto à alimentação e tratamentos de pele e cabelo, não ficaram com uma aparência grotesca, muito pelo contrário, a única mudança foi a da própria velhice da pele; as pinturas não foram afetadas ao ponto de se tornarem horrendas. Aqueles que cuidaram bem de sua saúde física possuem uma estética ainda melhor, obviamente. Claro que o cristão deve pensar na ideia da velhice e como poderá ficar a sua aparência, mas muitos idosos que são tatuados sentem-se muito bem com elas, e as expõem naturalmente, assim como faziam quando eram jovens. Alguém até mesmo falou: “Quando eu ficar velho, eu serei um velho tatuado”. Ou seja, ele está ciente de sua escolha.

2. E se você se arrepender? Sei que muitas pessoas se arrependem, contudo, porque o fazem? Alguns motivos são: Tatuagens com nomes de pessoas, tatuagens com símbolos pagãos, tatuagens de baixa qualidade, tatuagens com grafia errada, tatuagens feitas por impulso ou modismo, etc. Ou seja, são situações muito particulares e impensadas.

3. Mas e o que os outros irão dizer? Bem, o argumento do “escândalo” é bastante usado, mas muito relativo. Lembra-se da época, por exemplo, em que ter uma bateria ou guitarra dentro das igrejas era considerado um escândalo, só pelo fato de bandas de rock as usarem? Lembra-se também que ainda existem muitas igrejas que consideram “escândalo” a mulher usar calças e o homem deixar o cabelo crescer? Se de fato vamos levar em consideração todo “escândalo” que alguém pode sentir em relação às tatuagens, deveríamos proibir em todas as igrejas que as mulheres usem calças e que os homens deixem seus cabelos crescerem; que seja proibido também as mulheres se depilarem; as igrejas onde há pulos, batidas de palmas e até orações em línguas deveriam parar com essas coisas, pois outros – não poucos – cristãos se sentem escandalizados com essas coisas. E então, vamos proibir tudo isso e muito mais?

4. Tatuagem agride a pele. Com certeza, mas usar brinco também é uma agressão. Doí, sangra um pouco e deixa a orelha rocha por um tempo. Mas as mulheres os usam por uma questão de estética. Muitas injeções também doem bastante e agridem a pele, já que a perfuram, e mesmo assim são necessárias para a nossa saúde. Deus também não me parecer estar muito preocupado com a agressão à nossa pele, já que Ele mesmo ordenou que todo povo de Israel fosse circuncidado [Gn 17.26-27 | Lv 12.3]. Ele também instituiu que o servo que quisesse permanecer com o seu senhor por livre vontade deveria ser marcado - com um prego - em sua orelha junto à porta; ou seja, uma baita de uma agressão. Baseado nesses fatos, não acredito que seja a agressão à pele o problema – pois isso não é caracterizado como pecado – e sim o que você fará com ela. Se alguém for consciente e não tatuar coisas que o farão arrepender-se depois, ou que não firam as Sagradas Escrituras, tudo estará bem.

5. Se Deus me quisesse assim, eu teria nascido tatuado. Se formos analisar o caso desta forma, também seria errado o uso de brincos, pois se Deus quisesse as mulheres com buracos nas orelhas, já teriam nascido assim. Se Ele as quisesse sem pelos nas pernas e axilas, também as teriam feito assim. Será que o fato das mulheres se depilarem e usarem brincos desagrada a Deus?! Claro que não. E não adianta argumentar que as mulheres se depilam por uma questão de higiene. Se fosse tão mal assim, Deus mesmo as teria feito sem pelo algum no corpo, já que Ele sempre quer o nosso bem, mas, pelo contrário, Ele pôs no DNA delas que nascesse pelos em seus corpos durante a adolescência – assim como ocorre com os homens. Como já foi falado, as mulheres, por uma questão de estética, é que fazem isso.

6. Fazer tatuagem é dizer que você não está satisfeito com a criação de Deus. Esta, com certeza, é a pior argumentação que já ouvi. Às vezes, por não termos muitos argumentos começamos a usar de tudo para convencer o outro de que ele está errado. Pois bem, se fazer tatuagem é o mesmo que estar insatisfeito com a criação de Deus, então manipular o cabelo, pintar os olhos e unhas, e depilar-se seriam atitudes de insatisfação quanto ao que Deus fez. Pois se Deus fez alguém para ter cabelo encaracolado e este alguém o alisa, então está insatisfeito com a criação de Deus? Que absurdo. Então vamos condenar os salões de beleza. Vamos pregar em nossos púlpitos que as mulheres não devem se pintar, pois se Deus as quisessem com a boca marrom, vermelha, rosa, laranja ou amarela, Ele as teria feito assim. Vamos pregar nas reuniões de lideres que eles devem orientar as suas ovelhas a não pintarem as unhas, por que se o Senhor as fez sem cor, sem cor devem permanecer. Percebe que falácia absurda? É preciso se pensar antes de usar argumentos como esse, pois, geralmente, eles acabam se voltando contra o próprio argumentador.

7. Isso é vaidade. A bíblia fala que tudo é vaidade [Ec 1.2]. Usamos as roupas que usamos por vaidade; queremos estar apresentáveis e bem vestidos, então sempre vamos procurar boas roupas. Queremos sempre estar passeando com um carro novo, pois o carro novo – 0Km – e de boa aparência nos deixa confortáveis, meche com o nosso ego e autoestima. Até mesmo uma maquiagem é vaidade; e usar roupas sociais para manter uma boa aparência no púlpito é vaidade. Ser vaidoso não é pecado, pecado é quando isto nos domina ao ponto de nunca estarmos satisfeitos com nossa aparência real, ou quando nos tornamos cobiçosos, sem nunca estarmos satisfeitos com o que temos.

Como você pode ver, não existem argumentos realmente válidos contra o uso de tatuagens. Muitas pessoas que se posicionam contra o seu uso apenas não gostam delas. Mas não gostar de algo não é razão suficiente para afirmar que seja pecado [como mulheres de calça e homens de cabelo comprido]. Vimos, também, ao longo dessa serie, que nem mesmo a Bíblia demonstra versículos contra o seu uso.

Na verdade, existe um versículo em Colossenses, muito interessante, que diz: Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade... Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? ... As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” [Cl 2.18,20-21,23]. Veja que Paulo exortou os colossenses a deixar de lado velhos rudimentos mundanos, quanto ao uso de coisas.

Trazendo para o assunto abordado aqui, muitas pessoas comumente condenam o uso de tatuagens, com pretextos de mantermos a “boa aparência” ou a “disciplina”, mas o fazem apenas para a “satisfação da carne”, ou seja, o fazem por não gostarem de tatuagens. Já vimos que a Palavra de Deus não condena o uso de tatuagens, propriamente. E o que resta são “ordenanças” do mundo. Mas não fomos chamados para sermos escravos da vontade dos pensamentos dos outros, mas para a liberdade [Gl 5.1]. Mas também não devemos usar de nossa liberdade para darmos ocasião à carne [Gl 5.13]; seja tudo feito, porém, com espirito de moderação [II Tm 1.7].

No mais, resta apenas o concelho de Paulo aos romanos: “O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.” [Rm 14.3]. Em outras palavras: Se aquilo que você julga ser errado, não é condenado pelas Escrituras Sagradas, então não despreze aquele que o faz. Mas, você que faz, também não condene o que pensa que é errado, pois ambos foram recebidos por Deus, como sendo seus.

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O cristão e a tatuagem II: Templos de Deus

By : Gabriell Stevenson





Nesta segunda parte da serie vamos fazer uma rápida analise de outros versículos muito usados para o combate contra o uso de tatuagens, encontrados em I e II Coríntios:

Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” – I Coríntios 3.16-17

... Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” – II Coríntios 6.16

Estas duas passagens são frequentemente deturpadas para condenar o uso de tatuagens. A primeira, na realidade, está introduzida em um contexto sobre inveja, contenda, dissenções [v.3] e idolatria [v.4]. Enquanto que a segunda está inserida em um contexto de idolatria [v.16] e julgo desigual [v.14]. Nas duas passagens, somos exortados a termos a consciência de que o Espírito Santo habita em nós e não podemos dar lugar ao pecado, por consideração, honra e submissão a Ele.

Perceba que a maioria destes pecados estão descritos em Gálatas 5.19-21 como obras da carne: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias [contenda], emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas...” Ninguém que seja escravo destas coisas poderá herdar o Reino de Deus, como afirma o texto. E sabendo disto, posso compreender que o que destrói [ou corrompe; do grego phtheiro] o Templo de Deus, são justamente as obras da carne, e não as tatuagens em si. Obviamente que um homem pode usar as suas tatuagens para cometer quase todos estes pecados, porém, ao mesmo tempo, pode usá-las para exprimir uma bela arte, e até mesmo adoração a Deus.

Outro texto de I Coríntios, muito usado, é este:

Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” – I Coríntios 6.19

Ao lermos o capítulo 6, a partir do versículo 13, podemos observar que Paulo estava abordando o assunto de pecado sexual. Ele inclusive diz que todo pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo. Ou seja, todas as outras obras da carne são coisas que destroem ou corrompem o templo de Deus, pecando contra Ele, porém, a fornicação, além de ser um pecado contra Deus, é um pecado contra o nosso próprio corpo mortal.

A advertência de Paulo, nas três passagens aqui abordadas, nada tem a ver com o uso de tatuagens, mas de coisas relacionadas às obras da carne, descritas em Gálatas 5.19-21. Algumas pessoas que são contra o uso de tatuagens dizem que Levítico 19.28 é o único texto que trata diretamente sobre o assunto, pois sabem muito bem que I e II Coríntios nada tem a ver com isso.

Contudo, como foi abordado na primeira parte desta serie, não é disso que se trata o versículo em Levítico e sim de culto de idolatria e feitiçaria aos mortos. Se de fato a Palavra de Deus condenasse, ou pelo menos reprovasse o uso de tatuagens, então poderíamos dizer que estaríamos destruindo e contaminando o templo de Deus; mas sem esse fundamento, o que resta são vãs filosofias e abordagens socioculturais – que iremos verificar na próxima parte desta serie.

Se tatuagens fossem mesmo algo pecaminoso, o próprio Jesus não se revelaria a João, em Apocalipse, como tendo uma inscrição – semelhante a uma tatuagem – em sua coxa [Ap 19.16]. Sendo real ou apenas simbólico, o fato é que Jesus nunca usaria o pecado para descrever a Sua glória.

Ele poderia apenas ter declarado com Sua voz que era o “Rei dos reis e Senhor dos senhores”, mas, pelo contrário, Ele preferiu usar uma inscrição em sua coxa; um local estratégico para que Seus inimigos possam lê-la enquanto Ele estiver montado em seu cavalo - alguns sempre insistem que a melhor tradução é a que diz que a inscrição está No manto, sobre a sua coxa,mas, muito pelo contrário, esta é a tradução menos aceita entre os tradutores bíblicos; mesmo a NVI, por exemplo, que comumente altera o sentido de certas palavras, usa a tradução Em seu manto e em sua coxa.

Por essas e outras evidências, não creio que a tatuagem em si seja um problema, mas o tipo de tatuagem certamente o é. Alguns podem usar a tatuagem por uma razão de estética, outros para idolatria, etc. Acredito que algumas coisas devem ser levadas em consideração antes de o cristão resolver fazê-las: 1. Porque irão fazer 2. Que tipo de tatuagem irão fazer 3. Onde irão fazer 4. Estão dispostos a enfrentar com paciência e mansidão as possíveis consequências? 5. O Espírito Santo lhe deu carta branca para prosseguir?

Se o cristão levar estas coisas em consideração, e estiver totalmente consciente do que irá fazer, então não há porque reprimi-lo e coagi-lo.

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O cristão e a tatuagem I: Levítico 19.28

By : Gabriell Stevenson





Essa é uma discussão talvez não muito antiga. Não se sabe com exatidão quando este embate entre os pensadores cristãos se a tatuagem é ou não é pecado surgiu. Contudo, sabemos que muitas igrejas creem ser algo pecaminoso e ilícito, e chegam a proibir seus membros de fazerem; alguns líderes até ameaçam seus membros com a disciplina ou até mesmo a expulsão deles.

Outros, por outro lado, podem até não concordar, mas creem que a Bíblia não condena esta prática e eles também não condenam nem reprimem aqueles que optam por fazê-las. Outros creem que a Bíblia não proíbe e também acham uma bela expressão de arte, se usada com entendimento.


O versículo de Levítico, na realidade, deixa bem claro a intenção do Senhor. Todo teólogo honesto e bem instruído sabe bem disso. Muitas bíblias de estudo nos trazem a instrução de que esta era uma pratica comum entre povos pagãos que rodeavam as terras de Israel.


A Bíblia de Estudo Defesa da Fé, por exemplo, trás a seguinte nota de rodapé: "Lacerações e ferimentos físicos estavam incluídos nos ritos da adoração de fertilidade de Baal (cf. I Rs 18.28)". Enquanto que a Bíblia Shedd diz (sobre os vv.27 e 28): "Os pagãos cortavam os cabelos da cabeça ou da barba de certas maneiras, para honrar seus ídolos ou para os ritos fúnebres pagãos, Dt 18.10. Cortar o corpo era praticado para mostrar arrependimento extremo ou desespero. Condenam-se estas práticas entre o povo de Deus. Estas proibições eram para guardar o povo de Israel de seguir as práticas supersticiosas e idólatras dos pagãos que viviam ao seu redor."


Outro fato importante é perceber o local onde esta instrução está inserida. Muitos estão dispostos a usar este versículo – mesmo não tendo nada que a ver com o tema – para condenar a pratica do uso de tatuagens, mas não estão dispostos a usarem os outros versículos de Levítico, tais como a declaração de que toda mulher se torna imunda ao chegar o tempo da menstruação [Lv 15.19-28], ou quando dá a luz a um filho(a) [Lv 12.2,5]. Talvez devessem considerar pecado as pessoas que cortam os seus cabelos em redondo e os homens que fazem o canto das barbas [Lv 19.27]. Assim, também deveríamos parar de comer qualquer animal que rumina e não possui unhas fendidas [Lv 11.6]. Percebe o perigo?

A minha proposta nesta serie não é a de incentivar o uso de tatuagens, nem incentivar ao não uso. Minha proposta é a de analisarmos conscientemente e honestamente o que as Sagradas Escrituras realmente dizem com respeito a isso. E também analisaremos alguns pensamentos filosóficos e socioculturais da atualidade.

Nesta primeira parte da serie, começaremos com um dos textos mais usados na bíblia para a abordagem deste tema.

Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o Senhor.” – Levítico 19.28

Existe uma tradução brasileira que usa a expressão “tatuagem” ao invés de “marca”. Por uma questão de ética, eu não direi qual é, porém é evidente que esta é uma péssima tradução da palavra original. Não posso afirmar com certeza, porém esta tradução parece-me uma intenção pré-determinada para condenar o uso de tatuagens. Impressões a parte, vamos analisar bem este texto dentro do seu contexto e com a ajuda das palavras originais.

A palavra “golpes” vem de sareteth, que significa incisão, corte ou talho; e “marca” vem de qa’aqa kethobeth, que possui uma semelhança grande com a expressão anterior, ela significa incisão, corte ou marca feita a ferro em brasa. É fácil vermos que a expressão "marca" não tem nada que a ver com "tatuagem", pois se trata de cortes profundos com ferro em brasa feitos em rituais pagãos pelos mortos.

Nós realmente não podemos usar citações da Lei, aleatoriamente, para determinar mandamentos para o Novo Testamento; nem podemos interpretar as escrituras de forma insdiscriminada, julgando de acordo com o que eu "acho que seja". E julgando pelo que analisamos deste texto de Levítico, sabemos que não se trata de tatuagens e sim de culto aos mortos - que continua sendo um pecado, pois sabemos que os mortos não se comunicam com os vivos [Ec 9.5-6] e que isto é um ato de feitiçaria [I Sm 28.7-11 | Ap 21.8]

Continua...
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Discussão: Entendendo o fruto do espírito

By : Gabriell Stevenson

Apesar de não ser amplamente debatida, esta é uma discussão muito interessante. Apenas conversando com algumas pessoas, percebemos o quanto é divergente o entendimento dos cristãos com respeito a Gálatas 5.22-23.

Podemos observar pessoas dizerem: (1) O fruto do espírito (humano), ou (2) Os frutos do espírito (humano), ou (3) O fruto do Espírito (Santo), ou (4) os frutos do Espírito (Santo). Perceba que existem pelo menos quatro tipos básicos de entendimento a respeito desta passagem; mas ainda podemos observar subdivisões no primeiro e no terceiro pensamento: (a) uns dizem que este fruto é apenas o Amor e que as demais citações – alegria, paz, longanimidade, etc. – de Paulo, são apenas as ferramentas deste Amor. (b) Outros dizem que este fruto não se limita apenas ao Amor, mas que todas as citações de Paulo são igualmente, e separadamente, as reais características do fruto.

Entendendo que existem estas divergências, vamos agora ao analise do texto em questão:

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei.” – Gálatas 5.22-23

Em primeiro lugar, assim como discutido no artigo sobre Paulo e o terceiro céu, temos de entender que Paulo era um homem perfeitamente instruído na Palavra de Deus, e que, analisando todas as suas cartas, podemos dizer, com certeza, que Paulo sempre dizia exatamente o que ele queria dizer - sem mais, nem menos. Na verdade, muitas normas exegéticas e hermenêuticas são pura invenção humana para poderem deturpar a mensagem pura da Palavra. A principal norma que devemos entender e aceitar é: a Palavra diz exatamente o que ela quer dizer.

Paulo, ao escrever a sua carta aos gálatas, cita as obras (plural) da carne e o fruto (singular) do "Espírito". Parece ser um contraste muito grande quando observamos que as obras da carne são uma pluralidade de obras, enquanto que o fruto do "Espírito" também é uma pluralidade de coisas. Alguns concluem, por isso, que seria inconsistente crermos que o fruto do "Espírito" seria uma pluralidade de coisas - sendo que "fruto" está no singular; seria mais sensato pensar que seja uma única característica (o Amor), e que as demais sejam ferramentas desta característica. Contudo, o pensamento de que o fruto seja apenas um e que possui uma pluralidade de características, não é nem um pouco inconsistente comparando a outros textos da Bíblia sagrada. Lembre-se que cremos em apenas um Deus, mas que este único Deus é eternamente existente em três pessoas distintas, mas iguais em essência. Lembre-se também do demônio chamado Legião [Mc 5.9]. Ele disse: "... Legião é o meu nome [singular], porque somos muitos [plural]." É perfeitamente plausível que o fruto do "Espírito" sejam 9 em 1; cada característica agindo no momento devido e oportuno.

Não me parece justo forçar um texto bíblico a dizer aquilo que ele não diz com exatidão. Acredito que ao invés de nos preocuparmos em querer entender aquilo que a Bíblia não diz, deveríamos investir o nosso tempo em aceitá-la.

Veja bem, é perceptível que estas características do fruto do "Espírito" são semelhantes às características - ou ferramentas - do amor, descritas em I Co 13.1-8. Porém, perceba que no versículo 13 de I Co 13 Paulo escreveu: "Assim, permanecem agora estes três: a , a esperança e o amor..." Ele fez uma clara diferença entre "Fé" (pistis) e "Amor" (agape), mesmo que no versículo 7 ele diga que o "Amor" (agape) "tudo crê"; e este "Crê" é pistis. E "Fé" (pistis) é uma das características do fruto do "Espírito". Então, embora a Fé faça parte das ferramentas do Amor, pistis agape são palavras distintas e possuem significados particulares. Se Paulo quisesse dizer que o fruto do "Espírito" é o Amor, e que as demais características são meras ferramentas deste Amor, ele teria dito isso claramente, ao invés de listá-las uma atrás da outra, de forma ordenada.

Outro ponto a ser analisado nesta questão é se este "Espírito" é realmente o Espírito Santo ou o espírito humano.

A maioria das Bíblias trás a letra "E" em maiúsculo, indicando que este fruto é do Espírito Santo. Porém, não há nenhuma palavra anterior ou posterior que indique isso. Na verdade, todo o contexto de Gálatas 5.16-26 foi muito mal interpretado por alguns tradutores. Paulo não estava, em versículo algum, falando sobre o Espírito Santo; não há indicações claras disto. O que vemos é Paulo repetindo aquilo que também falou em Romanos 7.18-23. Paulo nos adverte, tanto em Romanos, quanto em Gálatas, que todo cristão nascido de novo trava uma "luta" contra si mesmo: Carne X Homem Interior (espírito humano). A diferença é que em Gálatas, Paulo lista qual é a lei em sua Carne - que são as obras da carne - e qual a lei em seu Homem Interior - que é o fruto do espírito.

Perceba também que Jesus nos chamou de ramos: Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada pois fazer [Jo 15.5]. Apesar dos ramos precisarem estar conectados à videira para poderem produzir uvas, são eles que as produzem. Também seria incoerente afirmar que "o fruto" seja do Espírito Santo, pois fruto é algo que nasce em alguma coisa, e o Espírito Santo não precisa que algo nasça nele, pois Ele já é completo desde a eternidade. Mas nós, como seres humanos incompletos, após a experiência do novo nascimento [II Co 5.17], precisamos que estas coisas nasçam em nós.

Em conclusão, vemos que O Fruto é apenas um, que se subdivide em amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança; de forma igual e ordenada. E que este Fruto não é do Espírito Santo, mas sim do espírito humano. E ele é produzido em nós por estarmos conectados com o Senhor Jesus.



Texto: Gabriell Stevenson

A santíssima trindade revelada no Novo Testamento

By : Gabriell Stevenson

No artigo anterior, sobre a santíssima trindade no Antigo Testamento, observamos algumas evidências quanto a trindade de Deus no Antigo Testamento. Vimos que possuímos fortes razões para crermos que Deus Pai deixara algumas pistas quanto ao Filho (Jesus) e o Espírito Santo fazerem parte da Sua divindade. Contudo, como veremos a seguir, apenas no Novo Testamento é que as sombras das coisas passadas se dissiparam [Cl 2.17 | Hb 10.1] e a verdade outrora oculta fora finalmente revelada [Cl 1.26].

Para entendermos melhor, iremos dividir este estudo em duas partes: Jesus e o Espírito Santo. Assim, poderemos ver com clareza e exatidão algumas das várias passagens bíblicas que comprovam a dinvindade do Filho e do Espírito.

1. Jesus

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." - João 1.1,3

"Eu e o Pai somos um." - João 10.30

"E quem vê a mim vê aquele que me enviou." - João 12.45

"... porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente." - Jo 5.19

"Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade." - Colossenses 2.9

Estes são apenas alguns dos vários versículos que podem ser encontrados na Palavra de Deus, que comprovam a divindade de Cristo. O evangelho segundo João foi o que mais enfatizou o Senhor Jesus como sendo parte da divindade de Deus. Ele faz referências até mesmo à criação do mundo, afirmando que Jesus é Deus - não um Deus, mas Deus -, e também afirma que tudo quanto foi feito, por Ele foi feito. Neste mesmo evangelho, vemos Jesus fazendo declarações a cerca de si mesmo, afirmando ser um só com o Pai, e que todo aquele que olhasse para Ele, estaria olhando para Deus, pois Jesus era a perfeita imagem de Deus aqui na terra [Hb 1.3]; realizando as mesmas obras. Paulo também defende a dinvindade de Cristo, afirmando que nele habita corporalmente toda a plenitude divina. Seria impossível para Jesus, se fosse um simples homem, possuir toda a plenitude divina habitando em si mesmo.

Além destas passagens, existem outras referências a cerca de Jesus, no Novo Testamento, que o colocam em pé de igualdade com o Deus Pai:

Eu sou - Êxodo 3.14 | João 8.58

Redentor - Isaías 47.4 | Tito 2.14

Salvador - Isaías 43.3 | Tito 3.6

Juiz - Salmo 98.9 | Atos 17.31

Senhor - Isaías 6.1 | João 12.41

Ao longo de todo o Novo Testamento, podemos observar várias dessas comparações entre Jesus e o Pai, igualando-os. A própria vida de Cristo, e o testemunho de todas as professias sendo cumpridas Nele, provam que Jesus é o Messias e Deus.

2. Espírito Santo

O próximo passo agora é vermos como pode o Espírito Santo também ser Deus, mas antes devemos responder a uma pergunta: o Espírito Santo também é uma pessoa, assim como o Pai e o Filho?

"Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo..." - Isaías 63.10

"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus..." - Efésios 4.30

"... esse vos ensinará todas as coisas..." - João 14.26

Os judeus não convertidos acreditam que o Espírito Santo não seja uma pessoa, mas apenas uma "força dinâmica" de Deus. Porém, estes três versículos demonstram que o Espírito Santo é uma pessoa, assim como Deus Pai e Deus Filho o são, pois tem sentimentos e inteligência. Apenas uma pessoa poderia possuir tais atributos. Também podemos observar em Atos 5.3 que existe a possibilidade de mentirmos para o Espírito, e, como sabemos, só se pode mentir à uma pessoa.

Percebendo isto, vamos analisar como o Espírito Santo fora revelado como participante da mesma divindade do Pai e do Filho:

"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador..." - João 14.16

A palavra usada para "outro" é allos, que significa "outro do mesmo tipo"; diferente de heteros, que significa "outro de outro tipo". Jesus, igualou o Espírito Santo a Ele mesmo. Está evidente, por esta declaração, que o Espírito possui a mesma natureza de Cristo - que possui a mesma natureza do Pai.

Em I Coríntios 3.17, Paulo disse: "... o Senhor é o Espírito...", claramente evidenciando o Espírito Santo como Deus. O apóstolo Pedro também o revela como Deus: "... mentisses para o Espírito Santo... Não mentiste aos homens, mas para Deus." [At 5.3-4]. E além destes versículos podemos observar, por meio de muitas passagens, os mesmos atributos de Deus no Espírito Santo: Ele é a verdade [I Jo 5.6]; Ele é onipresente e onisciente [Sl 139.7 | I Co 2.10]; Ele é criador [Sl 104.29-30]; etc.

O fato de muitos judeus não crerem na santíssima trindade - ou que pelo menos o Senhor seja um Deus eternamente existente em mais de uma pessoa - é por não crerem no testemunho fiel do Senhor Jesus e nem do Espírito Santo, como sendo igualmente divinos como o Pai - para estes, Jesus não fora o Cristo e o Espírito Santo não passa de uma "força dinâmica" de Deus Pai. Podemos observar, porém, por todas as Sagradas Escrituras do Novo Testamento, que muitos judeus seguiram e creram em Cristo; aceitando a Sua divindade e a do Santo Espírito.

Os islâmicos, como foi assinalado no texto anterior, também recusam a ideia de que Deus seja uma trindade; dizem ser impossível 1+1+1 ser igual a 1, logo rejeitam que Deus possa ser uma trindade. Os islâmicos nem sequer aceitam que Jesus seja o Messias; afirmam que os discípulos de nosso Senhor deturparam a Sua mensagem e que Jesus não passou de mais um profeta que surgiu antes da aparição de Maomé - da mesma forma que acusam os judeus de não terem a verdadeira revelação de Deus.  Contudo, a matemática e a lógica de Deus são diferentes das dos homens. Por vezes, 1+1 é igual a 1 [Mc 10.8]. E assim como 1 vence 1 Mil, 2 não vencem 2 Mil, mas 10 Mil [Dt 32.30]. Veja, também, como o Senhor Deus criou alguns elementos da natureza: o átomo, que é formado por neutron, proton e eletron (três em um); a música, que é formada por armonia, ritmo e melodia (três em um). Podemos observar, então, por estes pequenos exemplos, que até mesmo a Loucura de Deus (que é loucura para os que perecem, mas sabedoria para os que creem - I Co 1.23-24) é maior do que a sabedoria de meros humanos [I Co 1.25].

Veja este desenho que poderá esclarecer melhor a formação da trindade:


O Filho não é o Pai, nem o Espírito. O Pai não é o Filho, nem o Espírito. O Espírito não é o Pai e nem o Filho. Mas todos os três são três pessoas divinas que formam um único Deus. Porém, diferentes do átomo e da música, os três são perfeitamente iguais em tudo; possuem a mesma natureza, apenas exercem funções diferentes.


O mistério da santíssima trindade no Antigo Testamento

By : Gabriell Stevenson

A doutrina da trindade é mais discutida - e rejeitada - do que muitos cristãos pensam. Enquanto muitos cristãos sinceros e verdadeiros estão sendo ensinados a respeito da santíssima trindade (um único Deus, mas eternamente existente em três pessoas), outros grupos, como as Testemunhas de Jeová, judeus, islâmicos, etc., tem negado esta doutrina - estes possuem visões "unicistas" ou "unitaristas", em que consiste que Deus é apenas um, existente como uma só pessoa.

A bíblia é a base para a fé de todo e qualquer cristão verdadeiro; sem acréscimos literários ou revelações sobrenaturais. É por ela, e apenas por ela, que teremos de analisar esta discussão. Antes disso, precisamos entender que judeus e islâmicos não aceitam em definitivo a divindade de Cristo, e que judeus e islâmicos também não creem no mesmo Deus - um crê é Jeová (ou Yahweh) e outro em Alá. Contudo, apesar disto, o único grupo que iremos excluir num primeiro momento são os islâmicos.

Partiremos do Antigo Testamento, analisando algumas evidências sobre o único Deus existente em mais de uma pessoa:

"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra." - Gênesis 1.26

Esta é a passagem mais utilizada para se defender a doutrina da trindade no Antigo Testamento. É obvio que não podemos determinar, apenas por esta passagem, que se trata de um Deus trino. Contudo, podemos perceber que Deus está se referindo a Ele mesmo, porém falando com pelo menos mais uma pessoa; alguns acusam que este versículo pode estar se referindo a Deus falando com os anjos, mas nós não fomos criados a imagem dos anjos (não existem evidências que confirmem isso), fomos criados a imagem de Deus [Gn 1.27].

Outro texto onde podemos observar evidências sobre a trindade se encontra no capítulo 11 de Gênesis:

"Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro." - Gênesis 11.7

Aqui, o Senhor também não poderia estar falando com anjos, pois o texto não demonstra a participação deles na confusão das línguas humanas; vemos que o Senhor foi o único responsável por esta ação sobrenatural [Gn 11.6-9]. Perceba, também, que Deus utilizou a expressão "desçamos e confundamos" o que nos passa a ideia de que Ele está falando com mais de uma pessoa; alguém igualmente divino.

Algumas palavras hebraicas podem também nos ajudar a compreender o mistério da trindade no Antigo Testamento; como Echad Elohim.

1. Echad

"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor." - Deuteronômio 6.4

No hebraico, echad significa uma unidade composta; é diferente de yachid, que significa uma unidade simples. Alguns outros versículos podem clarear o nosso entendimento quanto a isso. Por exemplo, em Gênesis 22.2, quando Deus pede Isaque a Abraão, Ele usa a palavra yachid (unidade simples); e em Gênesis 2.24, quando o Senhor fala a respeito do homem e sua esposa se tornarem uma só carne, Ele usa a palavra echad (unidade composta - neste caso, dois que se tornam um).

2. Elohim

"No principio criou Deus os céus e a terra." - Gênesis 1.1

A palavra usada para "Deus" na verdade é elohim. Elohim é o plural da palavra Elohi, e deve ser entendida como "deuses", literalmente. É interessante que elohim é sempre acompanhada de prefixos no singular, o que pode evidenciar uma unidade composta - como ocorre no caso de echad. Os grupos que refutam a doutrina da trindade afirmam que o uso do termo elohim não implica numa evidência à trindade, mas é usada apenas para um sentido de "plural majestático", ou seja, uma reafirmação do poder de Deus como sendo "poderosíssimo". Esta afirmação não está de um todo equivocada, porém, até mesmo eles aceitam que a tradução correta para elohim seja "deuses", mas, apenas por dedução, acreditam que, quando aplicada ao Senhor, elohim serve apenas para exautar/ampliar ainda mais a Sua majestade e poder. Essa dedução se dá pelo uso de elohim nos textos referentes a Dagom [I Sm 5.7], Asterote [I Rs 11.5] e Moisés [Êx 7.1]. Bem, no caso de Moisés, Deus disse que ele seria como um representante do próprio Deus para faraó. Se Moisés estava representando um Deus que era uma unidade composta, então deveria ser usada a palavra elohim. No caso dos deuses pagãos Dagom e Asterote poderia facilmente significar uma composição de vários demônios que atuavam como sendo um único deus pagão: Dagom ou Asterote. Vemos um exemplo disso no encontro de Jesus com o demônio legião ... Legião é o meu nome [singular], porque somos muitos [plural].” [Mc 5.9]. Este encontro é uma evidência clara de que os demônios podem atuar juntos, assumindo uma única identidade - como uma unidade composta.

De fato, nenhuma destas evidências aponta com clareza à trindade, mas isso se dá porque nem Cristo e nem o Espírito Santo haviam sido identificados como sendo pessoas da divindade; isso ocorreu apenas no Novo Testamento. Mas, antes de finalizarmos, um fato interessante sobre o Santo Espírito deve ser analisado aqui. Os judeus (e outros grupos), em um contexto geral, afirmam que o Espírito Santo nada mais é do que uma "força dinâmica" de Yahweh. Contudo, Isaías nos mostra que o Espírito Santo é sim uma pessoa: "... e contristaram o seu Espírito Santo..." [Is 63.10]. Uma simples "força dinâmica" não poderia ser dotada de sentimentos; apenas a uma pessoa isso seria possível. Isaías evidênciou aquilo que seria totalmente revelado no Novo Testamento e isto deve ser levado em consideração; o próprio Paulo provavelmente se utilizou desta passagem quando disse que não devemos entristecer o Espírito Santo [Ef 4.30].

Bem, parece-me claro que o Senhor deixou muitas pistas quanto a Sua pluralidade; sendo constatadas por essas passagens e palavras hebraicas que aqui analisamos.

Continua...

Texto: Gabriell Stevenson

As testemunhas de Jeová e a Bíblia

By : Gabriell Stevenson

Creio que seja difícil alguém dizer que nunca falou com uma Testemunha de Jeová. Mesmo em cidades grandes, eles não se limitam às casas, mas adentram também nos prédios, batendo de apartamento em apartamento se preciso for; mas talvez ainda haja alguém que de fato nunca conversou com um, ou que pelo menos não sabia que estava conversando. As Testemunhas de Jeová são um grupo muitas vezes confundido com os evangélicos, contudo, eles mesmos não se consideram como tal – de fato há muitas diferenças entre os dois grupos; a começar por algumas de suas crenças.

As Testemunhas de Jeová (TJs) afirmam que consideram a Bíblia como a Palavra absoluta de Deus e que baseiam nela todas as suas crenças. Mas os seus ensinamentos, na verdade, contrariam muitos dos ensinamentos bíblicos. A proposta deste texto é o de analisarmos estas diferenças e assinalarmos as suas diferenças doutrinárias com a Bíblia Sagrada.

1. A Bíblia. As TJs usam uma versão modificada a Bíblia, chamada Tradução do Novo Mundo (TNM). Através da leitura, nota-se facilmente que os líderes das TJs que produziram a TNM não eram acadêmicos bíblicos. Só para começarmos, a mais óbvia diferença entre a TNM e outras Bíblias é o uso de “Jeová” no Novo Testamento. As TJs afirmam que o Novo Testamento usava originalmente o nome hebraico YHWH (traduzido como “Jeová” ou “Yahweh”) e que escribas apóstatas o substituíram por “Senhor” (gr. Kurios). Não existe evidências históricas ou manuscritas para embasar esta afirmação.

2. Pai, Filho e Espirito Santo. As TJs ensinam que somente o Pai é Jeová, o Deus Todo-Poderoso; o Filho, Jesus Cristo, é um “deus” inferior ao Pai; e o Espírito Santo é uma “força impessoal” que emana de Deus. A Bíblia, por outro lado, ensina que o Pai, o Filho e o Espirito Santo são Deus [Jo 1.1; 17.3; 20.28 | At 5.3-4 | II Co 3.17-18 | Tt 2.13]. O Filho tudo criou [Hb 1.10-12] e deve ser honrado como Deus [Jo 5.23 | Hb 1.6 | Ap 5.13]. O Espirito Santo é uma pessoa, chamada “Consolador” ou “Ajudador” – do grego parakletos; Ele ensina, fala, e dá testemunho de Jesus [Jo 14.16, 26; 15.26-27; 16.13-14].

3. A morte, a alma e a punição eterna. De acordo com as TJs, quando os seres humanos não salvos morrem, deixam de existir, não havendo punição eterna para os ímpios. No entanto, a Bíblia ensina que os seres humanos continuam a existir depois da morte, como espíritos à espera da ressurreição e do Juízo Final [Lc 16.19-31; 23.43 | Hb 12.9,23 | Ap 6.9-11]. A TNM traduz Lucas 23.43 e os textos hebraicos de forma distorcida, a fim de evitar esta conclusão. A Bíblia também nos ensina que os ímpios sofrerão a punição eterna [Mt 25.46 | Ap 14.9-11; 20.10].

4. A ressurreição e o retorno de Jesus. As TJs acreditam que Deus ressuscitou Jesus dos mortos como um espírito angelical, com um determinado corpo espiritual. Negam que Ele retornará visível e pessoalmente para a Terra. As Escrituras Sagradas, contudo, ensinam que Jesus ressuscitou com um corpo físico glorificado e imortal. Seu corpo possuía carne e ossos, mãos e pés, e até mesmo os sinais da crucificação [Lc 23.49 | Jo 2.19-22; 10.17-18; 20.20, 25 | At 2.24-32]. Embora seja a segunda pessoa da Divindade, Jesus é também homem glorificado [At 17.31 | I Co 15.47 | I Tm 2.5]; A Bíblia Sagrada também nos revela que Ele retornará pessoal e fisicamente à Terra [At 1.9-11; 3.19-21 | I Ts 4.16 | Hb 9.26-28].


5. Salvação. As TJs consideram que a morte de Jesus propicia um “resgate correspondente”, ou seja, liberta todas as pessoas, em princípio, da condenação pelo pecado de Adão, mas para desfrutarem da Vida Eterna, também devem provar que são dignas por meio de suas obras. A doutrina bíblica, por outro lado, é bem diferente. Os crentes são salvos somente pela graça de Deus e pela fé em Jesus Cristo, e suas boas obras são o fruto da salvação, e não o pré-requisito para ela [Rm 3.21-28; 5.1-11 | Ef 2.8-10 | Tt 3.4-8].

Os 10 mandamentos e o Novo Testamento II: Jesus e a Lei

By : Gabriell Stevenson

Como dito na primeira parte desta serie, existem pensamentos diferentes quanto a validade dos 10 Mandamentos. Muitos cristãos creem que os 10 Mandamentos permanecem inalterados e válidos para hoje. Outros dizem que são válidos, mas com pequenas ou grandes modificações. Enquanto que um terceiro grupo crê que nada daquilo é mais válido, e que Cristo e os Apóstolos nos trouxeram uma nova Lei. Entre outros tipos de pensamentos.

A Pure Church For Christ crê que nada da Lei, propriamente – e não apenas os 10 Mandamentos –, servem como ordenanças para nós hoje, salvo os que encontram base firme na Lei do Espírito de Vida [Rm 8.2]; que é firmada na Fé e no Amor [Rm 3.21-22, 27 | Rm 13.10]. Exemplos claros de referências da Lei que devemos seguir são: honrar pai e mãe [Êx 20.12 | Ef 6.2]; amar o próximo como a si mesmo [Lv 19.34 | Tg 2.8]; amar a Deus de todo nosso coração, e de toda nossa alma, e com todas as nossas forças [Dt 6.5 | Lc 10.25-28]. Não matar [Êx 20.13 | Rm 13.19]. Entre outras coisas. Contudo, podemos observar alguns acréscimos, ou melhorias nesses mandamentos. Como por exemplo: “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” [Jo 15.12]. E: “Qualquer que odeia o seu irmão é homicida...” [I Jo 3.15]. Veja que não devemos mais apenas amar o próximo como a nós mesmos, mas amá-lo como a nós mesmos e como Cristo nos amou; e que o ato de odiar alguém já nos caracteriza como assassinos, e não apenas o fato de matarmos literalmente.

Analisaremos então quais mudanças ocorreram dentre os 10 Mandamentos e como devemos encará-los atualmente:

1. Não terás outros deuses diante de mim. Bem, está claro que se trata de um mandamento ainda válido. Mas para darmos base a isso, vamos ver o que Paulo escreveu: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” [I Tm 2.5].

2. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás... Quanto ao culto idolatra a palavra de Deus, no Novo Testamento, diz: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém. [I Jo 5.21]. E também: “... porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?... [II Co 6.14-16]. E para finalizar: “Não erreis:... nem os idólatras... herdarão o Reino de Deus.” [I Co 6.10].

3. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. O significado de tomar do nome de Deus em vão é muito debatido, porém muito simples de ser resolvido: vamos averiguar a palavra no original. “Vão” vem o hebraico saw, da mesma raiz hebraica de soah, trasendo um sentido de desolador; seu significado primário é o de “engano”, “mentira” ou “falsidade”. Secundariamente, pode significar algo “inútil”. Podemos então, concluir que tomar o nome de Deus em vão é toma-lo com intenções más – como a mentira, a falsidade e o engano –, ou com intenções inúteis. Falar o nome de Deus, com más intenções e de forma inútil continua sendo pecado, pois a Bíblia diz que o nome de Deus é santo [Mt 6.9].

4. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Este é um mandamento que fora revogado nos dias do Novo Testamento. Vemos que Cristo se declarou como sendo o Senhor até do Sábado [Mc 2.27-28], afirmando que não era o sábado mais importante que o homem, pois o homem não foi feito para o sábado e sim o sábado para o homem. Hebreus 4.4-10 afirma que podemos entrar no descanso do Senhor [Gn 2.3] por meio de Cristo. Colossenses 2.17 nos adverte que estes sábados eram apenas sombras de coisas futuras (o descanso relatado em Hebreus 4.4-10 é o nosso descanso no Senhor): “... ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Gálatas 4.9-11 diz: “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.” Perceba que Paulo chama a guarda de dias como um rudimento fraco e pobre e que não precisamos mais servi-los. E, finalizando, Paulo fala em Romanos 14.5-6 que aqueles que fazem diferença entre dias para o Senhor o fazem, mas os que não fazem diferença para o Senhor o fazem, também, não havendo condenação para ninguém: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz...

5. Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. Horar pai e mãe continua sendo um mandamento para o Novo Testamento, contudo, Paulo acrescenta “... para que prosperes...” na interpretação deste mandamento [Ef 6.2-3]. Também institui ordenanças para os pais em relação aos filhos: “E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor [Ef. 6.4].

6. Não matarás. Mais um texto que continua, mas que sofreu acréscimos, como já vimos no começo deste texto. Jesus ensinou que: “... qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.” [Mt 5.22]. E o apostolo João nos ensina: “Qualquer que odeia a seu irmão é homicida...” [I Jo 3.15].

7. Não adulterarás. O adultério condenado no Antigo Testamento era efetuado carnalmente, porém, Jesus nos trás uma nova luz a respeito do adultério: “...qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” [Mt 5.28]. Ou seja, o simples fato de cobiçar, desejar, imaginar, já é causa de adultério. Adultério também se tornou assunto de divorcio: “...qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.” [Mt 5.32] E: “...qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” [Mt 19.9].

8. Não furtarás. I Coríntios 6.10 diz: “Não erreis... nem os ladrões... herdarão o Reino de Deus.” E Jesus descreveu que satanás era como um ladrão [Jo 10.10], logo, roubar é o mesmo que assemelhar-se ao diabo, assim como mentir também o é [Jo 8.44].

9. Não dirás falso testemunho. Apocalipse 21.8 diz: “Mas, quanto... a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre...” E quem é mentiroso é filho do diabo, pois ele é o pai da mentira [Jo 8.44].

10. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. Paulo caracteriza os cobiçosos, ou avarentos, como pessoas das quais devemos sempre mantermos distancia, pois são homens corruptos [II Tm3.2-8]. E, como já vimos, aquele que cobiça a mulher do próximo, além de cometer o pecado da cobiça, também comete o pecado do adultério [Mt 5.28].


Como são bem visíveis, muitos destes textos sofreram mudanças. O Senhor Jesus até mesmo “complicou” a vida de alguns cristãos carnais (como os que gostam de desejar as mulheres em seus pensamentos). Devemos entender que o fim da lei é Cristo [Rm 10.4] e que se formos ensinar às igrejas os mandamentos de Deus, não deveríamos nos utilizar dos 10 Mandamentos dados a Moisés, mas sim os textos do Novo Testamento; mas se usarmos os 10 Mandamentos, que seja apenas para mostrar as mudanças sofridas durante a transição da Antiga para a Nova Aliança [Hb 7.12,18-19; 8.13], senão estaremos ensinando aos cristãos, ordenanças limitadas e fracas. Também não devemos reformular os 10 Mandamentos como a Igreja Católica Romana fez. Mais uma vez eu digo: se formos usar os mandamentos do Antigo Testamento, devemos primeiro encontrar uma base dentro do Novo.

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